—Sei que faz muito tempo, mas é como montar em bicicleta. Nunca se esquece. «Isso é se aprendeu antes», desejou lhe dizer. Mas devia? Então os dedos começaram a subir por suas coxas, o polegar perigosamente perto de tocá-la ali, e a sensação que gerava o anseio que despertava sua carícia, fez-lhe pensar que possivelmente sim seria capaz de arrumar-se depois de tudo. A carne da que se havia sentido tão envergonhada até então, a carne que tinha condenado ao ostracismo tanto tempo, estava-o desejando, embora ela se sentisse débil. Os ossos de seus quadris nunca se haviam sentido tão especiais, nunca havia sentido tanto a curva de sua cintura como quando a mão de Rafiq passou por ela. E nesse momento estava sem fôlego por sua lenta ascensão. Então um polegar lhe acariciou um seio e ela gritou pelo inesperado e desconhecido prazer: as costas se arquearam sobre a cama. Deixou-se cair sobre ela e sorriu. —Vê? É como montar em bicicleta. Ela piscou e não foi capaz de saber por que falava de bicicletas. Só sabia que sua boca voltava a baixar, soube que ia beijá-la outra vez e que tinha passado muito tempo da última vez. O tato dos lábios, o toque do nariz, a aspereza da pele com barba contra suas bochechas, como coisas tão singelas podiam ser tão boas? Inclusive o calor que saía do homem que tinha sobre si lhe esquentava a alma e dava prazer a seus sentidos, despertava seu desejo. Gemeu e suspirou enquanto uma sensação se mesclava com outra, com os dedos cravados na colcha enquanto a beijava na garganta. Por que ninguém lhe tinha advertido de que podia ser assim? E então a boca de Rafiq se aventurou mais abaixo, seus lábios se fecharam sobre um seio, a língua acariciou o excitado mamilo. Duas finas capas de roupa não eram uma barreira. As ondas de prazer a percorreram até chegar a seu centro. Ou era porque tinha esquecido quão bom era sentir? Pensou. Todos esses anos tinham enterrado tudo. Suas necessidades. Seus desejos. E, sobretudo, suas lembranças de um jovem de cabelo negro que lhe tinha feito sentir uma mulher. Formosa. Desejável. A mulher que tinha prometido não possuir até a noite de bodas que jamais chegaria. Então, inclusive só com suas carícias no braço, o tato de suas mãos, tinha sabido quão bem podia fazer-se sentir a uma mulher um homem especial. Um homem especial, isso era Rafiq. E ali o tinha nesse momento. Encolheu-se de ombros ante sua inexperiência enquanto Rafiq apartava suas capas de vergonha e sua cálida boca lhe devorava os seios, o ventre e depois voltava para os mamilos, duro como pedras. Ofegando, sem fôlego, ela deixou que suas mãos encontrassem por fim uma função. Buscou-o, encontrou-o e notou o estremecimento que ele experimentou quando seus dedos percorreram seu peito e desceram por seus flancos. O ar também falhou a ele quando encontraram os bicos de seus peitos, duros como pedras de praia. Acariciou-os com os polegares e sentiu que seu poder crescia ao saber que era capaz de provocar nele essa reação. Oh, era tão agradável, o peito de Rafiq estremecendo-se sob suas mãos! Pensou um instante em todos esses anos perdidos, quando não havia sentido nada mais que humilhação. Nada salvo vergonha. Depois pensou nesses minutos e segundos esbanjados enquanto tinha estado ali tombada, sem atrever-se a tocar ao homem que tinha em cima e que fazia que voltasse a sentir. Que fazia borbulhar seu sangue. Anos perdidos, momentos desperdiçados. Não esbanjaria nada mais. E ia começar ali. Sob os beijos de Rafiq, deixou que suas mãos percorressem o arco de suas costas, chegou ao bordo dos boxers e deslizaram debaixo as unhas, seus dedos riscaram a linha dos firmes quadris até que chegou um momento que as mãos só podiam baixar. Uma mão lhe agarrou um pulso. —Não tão depressa — disse, e ela o olhou piscando, perguntando-se se tinha feito algo mal, se tinha declarado sua inexperiência. — Se for me tocar aí, tenho que lhe tirar o vestido. Ficou de joelhos diante dela, pôs-lhe as mãos nos tornozelos e começou a ascender lentamente, dedicando um tratamento especial a cada perna, apartando o vestido de sua pele. Apartou o tecido de seda, descobriu-a centímetro a centímetro sem deixar de olhá-la. Quando seus polegares chegaram ao interior das coxas, e os músculos se esticaram, simplesmente sorriu de satisfação E ela compreendeu, porque quando lhe havia tocado os bicos do peito tinha sido consciente do poder de suas carícias. Queria que ela se sentisse bem. Adorava. Não havia necessidade de apreensão ou temor, estava em boas mãos. Elevou os quadris antes que o pedisse, permitindo assim que a seda passasse por debaixo enquanto as mãos de Rafiq subiam até sua cintura e os polegares descreviam círculos ao redor de seu umbigo. Círculos que a faziam se sentir como gelatina. Inclinou-se e a beijou no umbigo antes de seguir para cima. —Temos que nos desfazer disto — disse com uma voz como se tivesse tragado areia. Inclinou-se sobre ela, levantou-a, beijou-a e lhe tirou o vestido pela cabeça. Ouviu um som como de água quando lançou o vestido ao tapete. Rafiq a olhou intensamente. —Ontem à noite pensei que era formosa, à luz da lua, saindo do mar — disse —, mas esta noite me parece perfeita. Ela sentiu que lhe enchia o coração no seio, estava ao bordo das lágrimas, mas lágrimas de euforia e não de tristeza. Havia dito que era perfeita! Agradeceu à fortuna ter chegado a esse momento, essa noite a recordaria sempre. Ele baixou sobre ela de modo que seus corpos se tocaram em toda sua longitude, encontraram-se suas bocas, suas línguas, suas peles, salvo nas zonas onde estava a roupa interior que até levavam, roupa interior que Rafiq já tentava lhe tirar. Beijou o percurso dos suspensórios do soutien e no percurso os desceu pelos ombros. E então, com uma mão hábil, abriu o fecho das costas. Com um movimento dos pulsos, o objeto tinha desaparecido. O abajur compunha sombras loucas no dormitório, sombras loucas que se mesclavam com as ideias loucas da cabeça de Sera e os sentimentos loucos de seu coração. Tinha amado ao Rafiq uma vez, e ele a tinha amado. Poderia voltar a fazê-lo? Então a língua quente lhe rodeou um mamilo, provocando uma quebra de onda de prazer que lhe chegou ao centro, e já não lhe importou o que ele sentisse. Ela o amava. Desejava-o e o tinha ali nesse momento. Isso era suficiente. A cálida boca de Rafiq estava em seus seios, os dentes e a língua se aliavam em um assalto desumano primeiro contra um mamilo e depois contra o outro, enquanto ela arqueava as costas de prazer, assim mal era consciente de que sua roupa interior e a dele tinham ido desaparecendo. Até que, enquanto a língua descrevia círculos ao redor de um mamilo. Notou uma mão em seu monte de Vênus, notou como uns dedos separavam seus lábios, calor contra calor que fez que enterrasse a cabeça nos almofadões assombrada, próxima à agonia e ao êxtase quando esses dedos começaram a desenhar círculos sobre seu sensível casulo e um dedo se deslizou dentro dela. —Rafiq! —gritou sem entender por completo por que estava tão desesperada, sabendo que essa carícia era ao mesmo tempo uma delícia e uma tortura. —Sei — sussurrou. — Eu também o sinto — se deitou sobre ela e o notou nu e desejoso, duro e pesado sobre seu ventre. — Eu tampouco posso esperar. E dessa vez a pontada de temor pelo que seguiria foi afogada pelos beijos ardentes de Rafiq, e o reconhecimento de seu próprio desejo e a sensação de umidade que notava entre as pernas. Desejava-o. Esse pensamento dominava tudo. Desejava-o mais que nada no mundo, queria senti-lo dentro dela. Profundamente dentro dela, onde seu corpo ansiava tanto recebê-lo. E o queria já. —Me olhe! —ouviu que lhe dizia. — Abre os olhos — quando lhe fez caso acrescentou. — Mantenha-os abertos, quero ver seus olhos quando chegar ao orgasmo. Pôs-se um preservativo e já estava entre suas pernas, seu sexo empurrava contra a entrada. A ela lhe acelerou a respiração, músculos internos que não sabia que existiam também colocaram em marcha tratando de atraí-lo com sua própria dança de sedução. Ardia de necessidade, de rogo, e seu corpo lhe resultava pesado. Pesado e imponente. Mas podia notar o controle, a tensão crescente do corpo de Rafiq, esperando a liberação. E o olhou, porque se ele ia ver seu orgasmo, ela queria ver o mesmo. Os olhos de ambos se conectaram, fundiu-se, o circuito estava fechado. E então ele se moveu. Seus quadris se balançaram sobre os dela, uma e outra vez. Sentiu a força e as investidas, a energia masculina contra o centro de sua feminilidade, e temeu por um momento a impossibilidade do que ia acontecer. Mas ele deve ter lido o pânico em seus olhos porque se deteve e a beijou, lentamente, conscienciosamente, profundamente. Tão profundamente que se derreteu nele enquanto há levantava um pouco mais. Olhou-o aos olhos nesse instante e o amou. Com os olhos e com o coração e com a alma. Amou-o por esperar, por duvidar, e por não ir depressa. Amou-o pelo jovem que foi. Pelo homem que era. Amou-o enquanto entrava dentro dela com uma investida que lhe fez gritar seu nome. «Não pode ser possível». Ficou paralisado completamente dentro dela. Seguro que não era possível. E ela abriu os olhos e o mirou de cada olho lhe caía uma lágrima, assombrada tanto como estava ele, lhe dizendo que assim era. —Por favor — rogou ela com voz rouca pelo desejo. — Não pare, desejo-lhe. E ele sentiu que seu sexo se inchava sob a pressão de suas tensas e suaves paredes. Era virgem. —Por favor — repetiu impaciente elevando os quadris de um modo mais persuasivo que as palavras. Centenas de perguntas cruzaram pela mente de Rafiq, centenas de respostas que não chegaram, mas sabia que não era momento para as explicações. O momento que tinha esperado em vão tantos anos atrás, o momento que lhe tinham roubado e era dele. Total e exclusivamente dele. E ela estava maravilhosa.
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